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A Morte

Ilustração de Daniel Silvestre da Silva
Não é preciso ter medo da morte, disse Batalha, com serenidade.
N-não é precis... Jigajoga engoliu em seco; a sua compleição xantocromática ganhou um tom enrubescido. Por um instante, Batalha achou que ele se ia desconjuntar e ser absorvido pela terra, como uma raiz seca - até os partidários que o ladeavam, à guisa de medulas espinais suplentes, se mostraram preocupados.
B-Batalha, sussurrou Caldaça, pousando uma mão no dorso. É melhor não dizeres mais nada.
Porque é que dizes que não é preciso ter medo da morte?, perguntou Jigajoga, ainda desnorteado. Porque enquanto nós existirmos, a morte não existe, explicou Batalha. E quando ela existir, quem não existe somos nós. Virou-se para a assistência e disse: A morte não é como os gatos, que existem ao mesmo tempo que nós e nos podem comer. A morte só existe quando nós já não existimos, por isso não nos pode fazer mal.
Acreditas mesmo nisso?, perguntou Jigajoga, tremelicante; as grandes unhas vascolejavam umas nas outras.
Acredito, respondeu Batalha.
 in Batalha de David Soares

Comentários

  1. bom dia :)

    Acontece quando tenho de fazer testamentos ou mesmo lidar com alguma partilha, os clientes fazerem este tipo de afirmação:" mas depois quando eu morrer não quero que...(isto ou aquilo)."
    :))

    Esboço sempre um sorriso interior. O que interessa isso? Já vai estar morto e nenhuma dessas preocupações vai importar...Porém a pessoa à minha frente está a pensar que " nem morto quero que uma coisa dessas aconteça!"

    O ser humano é extraordinário...
    david soares rocks!!

    beijos mana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ido

      de facto, é extraordinário o ser humano. São gerações e gerações de construção do medo à volta da morte, é cultural.

      Bj

      Eliminar

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